ACETATO DE TREMBOLONA

As Características Tempo de ação: 2-3 dias
Dosagem relatada: 200-700mg por semana
Aromatiza: não
Converte-se em DHT: não
Acne: sim
Retenção hídrica: não
Pressão Alta: sim
Inibe o eixo HPT: sim, muito
Hepatotóxica: não
Nefrotóxica: não

A História
O primeiro contato dos culturistas com a trembolona aconteceu nos anos 80, através do medicamento de uso veterinário chamado Finajet, distribuída nos Estados Unidos e Europa, e produzida pela empresa Hoechst and Roussel, que hoje faz parte da Sanofi-Aventis. Vendida em bujões de 50ml (!!!) e concentração de 30mg/ml, logo essa droga virou sucesso, sendo considerada como a droga perfeita para ciclos pré-competição. Porém em 1988 a Hoechst and Roussel retirou o Finajet do mercado, acabando com a oferta de trembolona por alguns anos e criando o cenário perfeito para moldar a reputação dessa droga. O forte impacto causado entre aqueles que usaram somado à impossibilidade de consegui-la fez da trembolona um mito. Quando ela reapareceu no mercado, agora sob o nome de Finaplix, a demanda era enorme.
O Finaplix era comercializado na forma de pequenas bolotas para implante bovino. As bolotas eram implantadas no gado para que a droga fosse absorvida mais lentamente. Apesar da apresentação desfavorável do Finaplix, muitos usuários se superaram, sendo tão brilhantes quanto corajosos. Nesta época se tornou prática comum transformar as bolotas em pó (amassando-as) e então diluir o pó em água ou óleo afim de criar uma solução que pudesse ser injetada. Obviamente, no início de tudo, poucos contavam com ambiente e conhecimento técnico suficientes para preparar uma solução estéril. Outra forma de se utilizar o Finaplix era transformar as bolotas em pó e misturar este pó à uma solução contendo metade água e metade DSMO (veículo para aplicação transdermal), fazendo com que a droga fosse absorvida pela corrente sanguínea com perdas de 10% a 25% após aplicada a solução sobre a pele. Esta também não é uma prática sem riscos, já que permite que muitas toxinas presentes na pele entrem na corrente sanguínea também. Ainda assim, também existiram - ou quem sabe existam até hoje em dia - aqueles que inalavam o pó (sim, como se fosse cocaína) ou que injetavam as bolotas direto no glúteo (sim, como se fossem gados), sem falar daqueles que afirmam categoricamente que as bolotas de Finaplix são próprias para a absorção retal (mais uma vez sim, como se fosse supositório!!!). O Finaplix continua a ser vendido hoje em dia nos Estados Unidos, bem como kits contendo todo o material necessário para conversão das bolotas em produto final para aplicação totalmente esterilizado. No Brasil, muitos laboratórios underground fornecem esta droga, geralmente em bujões de 10ml contendo entre 70mg e 110mg por ml.
Os Efeitos
Apesar de ser um derivado direto da nandrolona, não se deve confundir os efeitos dessas duas drogas. Estruturalmente a diferença entre os dois esteróides são as ligações duplas presentes na molécula da trembolona nos carbonos 9 e 11, ligações essas que não estão presentes na molécula de nandrolona. Essas ligações duplas são responsáveis pela diferença nos efeitos das duas drogas, especialmente a ligação dupla situada no carbono 9, que impede que a molécula de trembolona seja convertida em estrógeno pela enzima aromatase, diferente da nandrolona que apesar de ser um substrato fraco para essa enzima, pode aumentar os níveis de estrógeno durante o uso.
Sem os colaterais estrogênicos (como retenção hídrica, rápido acumulo de gordura, diminuição na lipólise) e sendo um potente andrógeno a trembolona é uma ótima escolha para os ciclos de definição. A ação androgênica da trembolona é muito mais forte que da nandrolona - na verdade ela é muito mais androgênica que a própria testosterona (4) - por dois motivos. Em primeiro lugar, a trembolona se fixa muito bem aos receptores androgênicos, sendo esta uma característica das 19nor. As ligações duplas nos carbonos 9 e 11 aumentam a fixação da molécula de trembolona nos receptores androgênicos (2), tornando-a um agonista mais potente que a sua droga mãe. Depois, e ainda mais importante, a trembolona não é reduzida pela enzima 5-alfa-reductase (1), isso faz com que ela entre nas células de vários tecidos com o mesmo poder de fixação que entra nas células musculares. Isso explica o porque da nandrolona (que é reduzida pela 5-alfa-reductase) ser bem menos androgênica.
Assim como as células musculares, as células de gorduras também possuem receptores androgênicos (5), e sendo a trembolona um forte agonista desses receptores, é responsável pela excepcional queima de gordura que já é bem conhecida entre os seus usuários e comprovada em estudos científicos (3)(6). Ao que tudo indica, quanto mais forte o andrógeno se liga aos receptores, maior é a queima de gordura (6). No entanto é válido observar que a perda de gordura proporcionada pela trembolona não ocorre quando ela está competindo com estrógeno circulante (3), que é um metabólito usual de drogas como metandrostenolona e testosterona. Some a isso o aspecto muscular sólido e compacto decorrente da forte ação androgênica da trembolona e entendemos porque muitos culturistas a consideram indispensável em um ciclo de cutting. Como muitos autores e usuários, acredito também que não exista droga melhor para esta finalidade.
No entanto não devemos relegar a trembolona aos ciclos de cutting e esquecer suas propriedades anabólicas. Quando se fala em construção muscular, muitas vezes vemos a trembolona ser colocada lado a lado com drogas como a testosterona e a metandrostenolona, porém esta é uma comparação falha. O fato de não se converter em estrógeno tem influência negativa sobre os resultados, uma vez que o estrógeno também é esteróide com propriedades anabolizantes, agindo diretamente nos mecanismos de utilização de glicose pelo músculo, na produção de GH e IGF-1, e na proliferação de receptores andrógenos (7)(8). No entanto, se compararmos miligrama por miligrama, a trembolona certamente proporciona mais músculos que a nandrolona ou qualquer outra droga que não tenha ação estrogênica. Assim, o que podemos esperar quando usamos apenas trembolona são ganhos razoáveis de massa muscular, com ótima qualidade e mantidos facilmente.
Os mecanismos pelos quais a trembolona promove a construção muscular ainda não são entendidos na íntegra, porém vale enumerar aquilo que já conhecemos sobre eles. Como você deve imaginar, a trembolona aumenta a retenção de nitrogênio no organismo (9), o que significa mais material para a formação de músculos. A trembolona também aumenta a proliferação e maturação das células satélite, como resultado do aumento da sensibilidade dessas células ao IGF-1 (10). Sinergicamente, ela também aumenta a liberação do próprio IGF-1 (11). Com grande efeito sobre a força e recuperação dos músculos pós-treino, a trembolona promove aumento na síntese de glicogênio e fosfocreatina (8).
Do outro lado da equação, a trembolona combate os efeitos do cortisol em vários níveis, atuando como um inibidor deste hormônio (12), bloqueando seus receptores (13) e alterando-os durante e após o seu uso (14). Isso significa que mesmo depois de encerrada a administração
de trembolona você ainda contará com menor atividade catabólica. Isso explica em partes o porque dos resultados obtidos com esta droga serem mantidos com maior facilidade do que aqueles obtidos com outras drogas.
O Uso
A trembolona é uma droga muito versátil, podendo ser colocada em praticamente qualquer ciclo, independente do objetivo. Como já dito anteriormente, a trembolona sozinha é uma droga fantástica para ciclos de definição. Porém, quando outras drogas muito androgênicas e sem ação estrogênica (como a drostonolona) são utilizadas em conjunto os resultados são muito mais visíveis. A medida que a relação andrógenos/estrógenos aumenta, a presença de líquido subcutâneo diminui, favorecendo ainda mais a definição e a queima de gordura. Drogas mais anabólicas, como o estanozolol, também se encaixam bem para este objetivo ou mesmo para ciclos em que o objetivo é ganhar massa magra com pouca ou nenhuma retenção hídrica.
Alias, o estanozolol tem se mostrado uma ótima combinação para a trembolona por dois motivos. Em primeiro lugar, a trembolona é um agonista dos receptores de progesterona (mais sobre este assunto a seguir) e o estanozolol age no sentido contrário, como um antagonista destes mesmos receptores. E depois, a trembolona como já sabemos se liga com muita força aos receptores androgênicos, promovendo assim os efeitos mediados por esta ligação. Já o estanozolol se liga de maneira muito fraca aos receptores androgênicos, exercendo sua ação majoritariamente por outras vias que não a dos receptores. Apesar deste tipo de ação ainda não ser bem compreendido já se sabe que ele existe. Assim, quando trembolona e estanozolol se encontram em um mesmo ciclo, você conta com ação nos dois sentidos: mediados e não mediados pelos receptores androgênicos.
Se o objetivo é ganhar massa muscular sem muita retenção hídrica, drogas que possuam pouca ação estrogênica são as escolhas ideais. Entre elas estão o propionato de testosterona e a boldenona. A presença de quantidades controladas de estrógeno irá favorecer o anabolismo sem prejudicar tanto a qualidade muscular. Estas drogas ainda podem ser utilizadas em um ciclo de definição, desde que utilizada em conjunto com um inibidor de aromatase afim de reduzir/eliminar a conversão em estrógeno.
Quando o que se deseja é ganhar muito volume, drogas como enantato ou cipionato de testosterona, oximetolona ou metandrostenolona irão adicionar a ação estrogênica necessária para obter grandes resultados, porém sem contar com muita qualidade muscular.

Os Colaterais

Mesmo não sendo atingida pela enzima 5-alfa-reductase, que normalmente reduz os esteróides à formas mais androgênicas, a trembolona por si só é capaz de produzir efeitos colaterais desta natureza, como pele oleosa, acne, queda de cabelo e hipertrofia da próstata. Comparando o valor androgênico da testosterona (100) e da trembolona (500) fica mais fácil entender porque a redução não é necessária para que estes colaterais se manifestem, de forma que o uso de finasterida para evitar alguns desses colaterais é ineficaz. Ainda sobre os colaterais androgênicos, a trembolona pode induzir os usuários a se comportar de forma agressiva. Este colateral costuma ser relatado em sua maioria por pessoas que estão sob os efeitos da trembolona durante longos períodos e com doses excessivas. Apesar de este ser considerado por alguns um efeito colateral, outros se beneficiam desta agressividade aplicando-a durante o treino para aumentar o desempenho. Por certo você já percebeu que os pesos costumam ficar mais leves quando você vai treinar depois de uma briga com a patroa ou quando alguém consegue te tirar do sério a caminho da academia (neste ponto sempre encontramos uma pessoa disposta a ajudar!).
Quanto aos colaterais estrogênicos a preocupação deve ser mínima. A trembolona não é convertida em estrógeno, logo não induz efeitos colaterais como ginecomastia, retenção hídrica ou ganho acelerado de gordura por esta via. Então porque a preocupação deve ser mínima e não nula? A molécula de trembolona (assim como a nandrolona) é parecida com a molécula de progesterona, sendo capaz de se ligar aos seus receptores (15)(16). Um efeito conhecido da progesterona é a sua capacidade de potencializar os efeitos do estrógeno (17). Assim, o cuidado deve ser redobrado quando a trembolona é usada em conjunto com outra droga de ação estrogênica. A progesterona, tecnicamente, é capaz de induzir por si só efeitos colaterais estrogênicos, porém quando a trembolona é usada sem a presença de estrógeno raramente é associada à retenção hídrica, e mais raramente ainda à ginecomastia e acumulo de gordura acelerado. Apesar de não existirem estudos comprovando que a ação progestênica da trembolona por si só é incapaz de produzir colaterais estrogênicos, as evidências apontam nesta direção. Mesmo sendo a progesterona um estrógeno, seus receptores também mediam alguns efeitos androgênicos secundários. Drogas como a trembolona, nandrolona e estanozolol parecem ativar estes efeitos quando se ligam aos receptores da progesterona, podendo causar perda de libido e disfunção erétil (8), sendo o estanozolol muito mais brando quanto a este efeito se comparado às drogas da família 19-nor. Em todo caso, existem drogas que podem ser utilizadas em conjunto para combater o efeito progestênico da trembolona, como o estanozolol e o citrato de tamoxifeno que agem como leves antagonistas dos receptores de progesterona. Para uma ação anti-progestênica mais eficaz existem também outras duas opções, que são o fulvestrante e a droga conhecida por RU-486 (pílula abortiva), porém essas duas drogas também possuem seus efeitos colaterais, são muito caras e de difícil acesso.
A trembolona inibe a produção endógena de testosterona. Apesar de não se converter em estrógeno, que o maior vilão quando o assunto é inibição do eixo HPT, o poder androgênico da trembolona suprime o eixo hormonal muito rapidamente. Como todos os esteróides sexuais tem efeitos negativos sobre o eixo, não podemos eliminar a ação progestênica da trembolona sobre este colateral.
Em muitos lugares se comenta sobre a nefrotoxidade da trembolona, no entanto não existem evidências que confirmem este colateral. Ao que parece o rumor sobre este colateral se originou graças a coloração da urina que costuma ficar mais escura, normalmente em um tom de cor entre o laranja e o marrom. Porém isto não acontece por sobrecarga renal e sim devido à molécula de trembolona sofrer pouca alteração antes de ser excretada, e assim modificando a cor natural da urina. Já notou que a trembolona tem a cor mais escura que as outras drogas? E que a cor da urina fica bem parecida? A urina costuma ficar muito escura quando a trembolona é usada em doses excessivas, o que assusta os usuários induzindo-os a pensar que existe sangue sendo excretado em conjunto ou que indica a nefrotoxidade da droga, mas como já explicado, isto é um erro. Mesmo não provocando retenção de água e sal a trembolona é conhecida por aumentar a pressão sanguínea de seus usuários, e isto sim pode gerar problemas renais, juntamente com a perda rápida de água causada pelo aumento no metabolismo basal, de forma que durante o uso de trembolona é uma boa pratica checar a pressão sanguínea regularmente e aumentar a ingestão de água.
A questão da toxidade ao fígado causada pela trembolona também tem sido levantada com muita freqüência. No entanto, isso parece ser mais um mito. A trembolona não é um 17aa, logo não deve apresentar riscos ao fígado. A única referência séria que encontrei até o momento afirmando que a trembolona é hepatotóxica foi do autor L. Rea (8), porém
recentemente ele voltou atrás no teor da sua publicação e apontou o excesso de álcool benzílico presente em algumas conversões, bem como as soluções não estéreis de Finaplix, como causadores desta toxidade (18).
Alguns usuários sofrem de um ataque súbito de tosse após as injeções de trembolona. Ela se manifesta de forma violenta e incontrolável na maioria das vezes, por um período de no máximo um minuto ou dois, e depois some. Existem usuários que manifestam este colateral todas as vezes que administram a droga, alguns o manifestam exporadicamente e outros sofrem com a tosse raramente ou nunca sofreram. Esta tosse ainda não tem uma explicação definitiva, apesar de existirem várias teorias para explicar este colateral. Uma delas alega que a trembolona possui um mecanismo único que causa bronquioconstrição, porém esse mecanismo não teria uma ação tão rápida para provocar a tosse logo após a injeção de trembolona. Além do mais, esta tosse não parece ser exclusiva da trembolona, já que alguns usuários alegam ter sofrido este colateral ao usar outros EAAs como boldenona ou cipionato de testosterona. Outra possibilidade seria a quantidade excessiva de álcool benzílico presente nas conversões de alguns laboratórios underground. Contudo, sendo esta teoria verdadeira, a tosse ocorreria com o uso de outras substâncias que levam a mesma quantidade de álcool benzílico, como o propionato de testosterona, fato que não acontece. A teoria mais aceita, e que parece fazer mais sentido, atribui este efeito à pureza da droga. A trembolona é uma substância muito difícil de ser refinada (bem como a boldenona e o cipionato de testosterona), então dependendo do grau de sua pureza, a solução contém uma parcela menor ou maior detrembolona oxidada, que seria o agente causador deste colateral, procando uma espécie de anafilaxia. Esta teoria se valida pela experiência de alguns usuários ao relacionar este colateral à cor da solução de trembolona, que quanto mais clara (ou seja, mais pura) menos chances tem de se manifestar.
Infelizmente, a trembolona reduz a produção de T3 (19). Apesar da trembolona ser uma ótima droga para definição, este é um colateral contraproducente. Adicionar T3 exógena ao ciclo é uma pratica eficaz para maximizar os efeitos da trembolona.

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