MEDICINA ESTETICA E ENVELHECIMENTO

Os chamados "procedimentos ancilares", em sua maioria ambulatoriais e menos invasivos que os cirúrgicos, tornaram-se populares nas duas últimas décadas do século XX, com o objetivo de proporcionar resultados mais estéticos na prática clínica da Cirurgia Plástica, em condições tais como o rejuvenescimento facial. Compreendem várias modalidades diferentes de tratamento, geralmente agrupadas sob a denominação "Medicina Estética". A origem etimológica deste termo não é adequada, visto a dificuldade em diferenciar termos tais como "estético" e "reconstrutivo". Todo procedimento reparador visa resultado o mais estético possível, enquanto qualquer procedimento dito estético visa modificar alguma insatisfação quanto à morfologia e elevar a auto-estima. Entretanto, o termo "Medicina Estética" já está consagrado tanto no meio médico quanto pela mídia, sendo difícil no momento atual discutir mudança de nomenclatura. Características tratadas incluem condições fisiológicas, patológicas, e intermediárias entre as duas, desde os sinais de envelhecimento, manchas, telangiectasias, pele seca, pele oleosa, acne, presença de pêlos, hipertricose, hiperidrose, ou cicatrizes.
       O conceito de beleza variou na história da humanidade de acordo com a época ou a civilização dominante. Entretanto, esteve sempre estreitamente relacionado com a manutenção do aspecto juvenil. A maior longevidade conseguida nos tempos modernos levou à necessidade de aumento no tempo de produtividade. Com isso, a manutenção da aparência jovem tem adquirido importância pessoal e econômica cada vez maior, exigindo avanços na compreensão da fisiopatologia do envelhecimento, com a intenção de retardá-lo o máximo possível.
       Nas décadas de 70 e 80 do século XX popularizou-se a cirurgia facial ou ritidoplastia. Inicialmente buscava-se a diminuição da flacidez e das rugas através do aumento de tensão ou tração da pele, e a cirurgia era realizada principalmente em indivíduos acima dos 60 anos de idade. Posteriormente, ao lado da melhora da técnica, com atuação em diversos planos teciduais, observou-se a procura pelo rejuvenescimento por indivíduos mais jovens. Atualmente, a preocupação com a prevenção e tratamento dos primeiros sinais de envelhecimento é comum em indivíduos a partir de 30 anos de idade. Neste contexto ocorreu a popularização das técnicas de Medicina Estética.
       Dentre os elementos que caracterizam uma face jovem, seja ela masculina ou feminina, destacam-se coloração homogênea e viva da pele e do cabelo, lábios de contornos bem definidos, com volume, supercílios bem demarcados e arqueados (mais na mulher que no homem), projeção malar adequada e linha da mandíbula linear. Com o envelhecimento, observam-se alterações morfológicas e funcionais não apenas na pele, mas também no tecido celular subcutâneo, no plano músculo-aponeurótico e nos ossos.
       Dois fenômenos distintos são individualizados em relação ao envelhecimento cutâneo, o envelhecimento cronológico ou intrínseco, presente em todos os indivíduos e sujeito a influências genéticas, e o envelhecimento extrínseco, causado por fatores ambientais tais como a exposição solar, tabagismo, "stress", contrações musculares recorrentes e flutuações grandes de peso. É muitas vezes denominado fotoenvelhecimento, por ser a exposição solar crônica o principal fator etiológico a acelerar a degeneração dos tecidos.
       Ao redor dos 30 anos de idade inicia-se a diminuição progressiva da espessura e da extensibilidade da pele. A sequência mais comum de aparecimento de sinais de envelhecimento inicia-se com a evidenciação de rugas dinâmicas peri-orbiculares, ptose do supercílio, acúmulo de excesso de pele palpebral, herniação das bolsas de gordura palpebrais, e acentuação do sulco naso-geniano. Estes elementos acentuam-se progressivamente com o passar dos anos. Somam-se a eles o aparecimento de rugas dinâmicas glabelares e frontais, flacidez cérvico-facial com acúmulo de excesso de pele e gordura na região mandibular, queda da ponta nasal, atrofia e herniação das bolsas de gordura malares. A partir dos 60 anos de idade, a atrofia dermo-gordurosa, a alteração das propriedades mecânicas da pele e a diminuição da função endócrina cutânea, ou seja, a produção de vitamina D, são bastante significativas.
       As principais características clínicas do envelhecimento cronológico cutâneo no idoso são o aspecto desidratado da pele, a presença de rugas, flacidez, neoplasias benignas, retardo na restauração após lesões, perda da extensibilidade e turgor cutâneos, e maior transparência do tegumento, decorrente da atrofia da epiderme, que permite visualizar vasos ou o tecido celular subcutâneo. O aparecimento destas características é mais precoce em indivíduos de pele seca quando comparados aos pacientes de pele oleosa, nos quais a maior produção de manto hidro-lipídico promove maior proteção contra os agentes externos.
       A análise histológica da epiderme de indivíduos idosos em áreas não expostas ao sol evidencia diminuição da espessura, queratinócitos heterogêneos, achatamento das cristas dermo-epidérmicas e diminuição dos microvilos das células basais, estes dois últimos justificando a maior fragilidade do epitélio nestes indivíduos. Neles, a taxa de renovação epidérmica é mais lenta, e há diminuição do número de melanócitos ativos e células de Langerhans, com consequente diminuição da resposta imune cutânea. Na derme, há diminuição da espessura, da celularidade, da vascularização e da quantidade de matriz extra-celular, incluindo-se aqui as fibras colágenas, as elásticas e a substância fundamental. O colágeno, diminuído no conteúdo, encontra-se mais desorganizado, compactado, e mais rígido, por maior número de ligações cruzadas. A menor vascularização é um dos prováveis fatores responsáveis pela atrofia dos anexos cutâneos, resultando na diminuição da produção de secreção sebácea e em sua diluição, o que aumenta a freqüência de dermatite seborréica e comedões. Há, também, diminuição da sudorese, prejudicando a função de termorregulação.
       Em relação aos folículos pilosos, aos 50 anos de idade, metade dos indivíduos terá metade dos seus folículos pilosos amelanóticos, processo que se inicia aos 34 ± 9 anos e caracteriza-se por inibição da atividade da tirosinase, ou seja, alteração funcional dos melanócitos foliculares. Os folículos estão diminuídos em número, na espessura do pêlo, têm o crescimento mais lento, e a fase telógena é maior. A calvície piora progressivamente com a idade, com aumento do recesso bitemporal em homens e mulheres, e occipital principalmente em homens.
       Quanto às terminações nervosas, ocorre diminuição dos corpúsculos de Pacini e Meissner, com conseqüente diminuição da percepção sensorial e da discriminatória entre dois pontos, além de aumentar o limiar de dor, que pode predispor a lesões nos idosos.
       As alterações relacionadas ao fotoenvelhecimento se superimpõem a este quadro, sendo mais intensas em indivíduos caucasianos, devido à menor quantidade de melanina, cuja principal função é a proteção das estruturas profundas contra a ação dos raios solares. Já está bem documentado que a exposição solar é a causa mais significativa de aceleração do processo de envelhecimento cutâneo. A exposição ao ultravioleta causa lesão do genoma celular, diminui a reparação do mesmo, libera proteases lisossômicas, além de produzir dano oxidativo direto na matriz dérmica. O dano é cumulativo e deve-se principalmente à radiação ultravioleta B (UVB: comprimento de onda entre 290 e 320 nm), mas também aos raios ultravioleta A (UVA: 320-400 nm), que chegam à superfície terrestre em maior abundância, e apresentam efeito sinérgico e aditivo. Por isso enfatiza-se a importância da fotoproteção diária de amplo espectro (UVA/UVB) em todos os indivíduos.
       A característica histológica mais específica do fotoenvelhecimento está relacionada com a maior deposição de fibras elásticas anômalas e disfuncionais na derme, processo conhecido como elastose. A quantidade de colágeno está diminuída, e o mesmo está mais fragmentado. Por outro lado, há aumento do número de fibroblastos, mastócitos, histiócitos e na quantidade de glicosaminoglicanas, caracterizando inflamação dérmica crônica. A epiderme, no estágio inicial, está espessada, com aumento do número de camadas celulares e de atipias. Em estágios avançados às vezes evolui com atrofia. Há aumento do número de melanócitos e alteração na sua função, alternando hiper com hipoatividade. Os vasos da microcirculação tornam-se obliterados e tortuosos.
       Em relação ao tabagismo, há relação diretamente proporcional entre o número de maços/anos fumados e a quantidade de rugas profundas. A elastose em pacientes tabagistas estende-se mais profundamente, chegando até a derme reticular. Entre outras alterações clínicas, são freqüentes o aparecimento de coloração acinzentada da pele, o maior ressecamento e o aumento do número de neoplasias malignas cutâneas.
       A diminuição dos níveis de estrógeno após a menopausa influencia e acelera o envelhecimento cutâneo, pois promove diminuição da síntese de colágeno, paralelamente à maior reabsorção óssea, maior perda trans-epidérmica de água, menor produção sebácea e muitas vezes hirsutismo.

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